Sobre os restos que nos habitam

Momentos de tristeza passam. Momentos de felicidade também. Mesmo aquilo que mais nos deixa ansiosos, temerosos, com raiva e nos tira o sono vai chegar e vai passar. Também aquilo que nos faz quase levitar de expectativa, aquela "ansiedade feliz", vai passar. A vida não é linear, não é uma constante onde podemos prever o que vai acontecer e quanto tempo vai durar. Nada dura "para sempre", nem o ruim e nem o bom, nem o péssimo e nem o excepcional, nem o chato e nem o interessante. O que às vezes parece um monstro de sete cabeças impossível de derrotar, uma vez que passa, se mostra apenas mais um dos acontecimentos da nossa breve existência e ao qual sobrevivemos, por pior ou melhor que seja, ainda que com feridas.

Os acontecimentos nos atravessam e passam, mas deixam restos que vão encontrando morada em nós. Somos feitos de restos e é com eles que precisamos trabalhar. Em uma análise, aprendemos a lidar com estes restos que nos habitam, seja qual for o destino que conseguirmos dar a eles. Algo acontece ali que nos tira a venda dos olhos e expõe cada poro do nosso corpo.

Um dia seremos apenas uma lembrança de alguém, pois assim como os acontecimentos, nós passamos também. Nascemos, vivemos e morremos, mas o que fazemos nesse intervalo pode ser bem interessante. Já ouvi muito falas semelhantes a essa: "Mas se vamos morrer, porque valeria a pena fazer qualquer coisa?". Proponho uma outra forma de pensar a respeito. Já que sabemos sobre nossa finitude inegociável, de que forma podemos usar nossos restos para melhor aproveitar a única vida que temos?

Faz sentido para você?